Pois bem, amigos , findou o período eleitoral aqui em Crato. Uma campanha acirrada, marcada por catimba, golpes abaixo da cintura, agressões de lado a lado, onde a mira dos fuzis foi apontada mais para o pessoal do que para o coletivo. Esperávamos mais propostas concretas para as crônicas mazelas do município, do que detalhes sobre desvios de conduta na vida privada, segredos de alcova, e narrativas ficcionais. Mas assim foi e, entre mortos e feridos em meio às escaramuças, salvaram-se todos. Imaginei que terminada a apuração o lado perdedor teria uma conduta mais republicana, afinal não se tratava de uma guerra pessoal, onde interesses próprios deveriam estar abaixo das aspirações e anseios coletivos. Como louvor à Democracia esperava-se que o derrotado ligasse para o vencedor, lhe parabenizasse pela vitória alcançada no pleito e desejasse ao futuro prefeito sorte e empenho no destino do Crato nos próximos quatro anos. Afinal, mesmo não residindo aqui, ele é cratense e espera-se que deseje o melhor para sua cidade natal.
Infelizmente, não foi isso que ocorreu. A eleição até parece que ainda não aconteceu e os atritos e denúncias permanecem bem vivos na Mídia, num lenga-lenga eterno, numa lamentação que não tem fim, aquela mesma que tem sido a tônica na polarização dos últimos tempos e que redundou num clima golpista e na tentativa de golpe do 08 de janeiro. As urnas eletrônicas eram viciadas e programadas para eleger Lula, segundo a insânia que tomou conta do país após a eleição de dois anos atrás. Dali nasceu o clima propício para a depredação dos prédios dos três poderes, sabotagem com bombas, aliciamento de militares e financiamento empresarial de uma tentativa fascista de tomada de poder por força de armas.
A eleição, amigos, é bom lembrar, terminou na noite de 06 de outubro. Como sempre — nada existe de novo — um candidato obteve mais votos e foi eleito, os outros perderam. O que há de estranho nisso? A partir de primeiro de janeiro André Barreto é o novo prefeito do Crato por quatro anos. Será o prefeito da cidade e não apenas daqueles que nele votaram. Parabenizo, em nome da Democracia, os que participaram da festa democrática, apresentando outras opções possíveis, outras propostas diversas, isso engrandece a vida republicana. Nada mais horrível do que a unanimidade, o maniqueísmo. Mas são justamente as ideias que devem se confrontar, outras visões administrativas, outras formas de ver o mundo, a coletividade. Os que perderam têm todo o direito de fiscalizar, de cobrar promessas feitas em campanha e continuar semeando suas ideias e plataformas para colher em pleitos futuros votos que lhes elejam. Ao menos escondam e disfarçam a ira, o olho gordo, a decepção, as pragas, blasfêmias e finjam desejar o melhor para a cidade em que vocês vivem ou um dia viveram.
Vi críticas infundadas e raivosas contra o Ministro e ex-governador do Ceará Camilo Santana pela sua participação decisiva no pleito. Ele apenas exerceu o direito universal de se posicionar politicamente na cidade onde nasceu. Outras figuras políticas aqui estiveram apoiando outros candidatos e ninguém os detonou: Ciro Gomes, Roberto Pessoa exerceram também um direito sagrado, tomando partido e nem cratenses tiveram a felicidade de ser. A grande celeuma é que o cratense Camilo Santana é um excepcional Ministro da Educação e foi, para o Cariri, certamente, o melhor governador de toda a história do Ceará. Isso é mérito seu e disso ele não tem nenhuma culpa. Sei que isso é devastador para seus adversários, mas assim é a vida!
Parabenizo todos os candidatos pela festa democrática do último dia 06. Vencedor e derrotados. A campanha, no entanto, acabou e a regra é simples: quem tem maior número de votos governa, os demais batem palma, espanam a poeira, organizam os boletos e começam a fazer projetos para 2028. Vida que segue! Alguém já disse que derrota em eleição só não é pior do que morte de ateu, porque sempre existe a possibilidade de ressurreição num futuro próximo.
Por J. Flávio Vieira, médico e escritor. Membro do Instituto Cultural do Cariri (ICC). Agraciado com a Medalha do Mérito Bárbara de Alencar
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