O mundo está em combustão. Não se trata de alarmismo barato, mas de um alerta baseado em fatos. Enquanto líderes mundiais discursam sob holofotes e cúpulas diplomáticas simulam soluções, o planeta mergulha lentamente num ciclo de guerras que lembram perigosamente o prelúdio das grandes tragédias do século XX. Israel, Palestina, Hamas, Irã, Rússia, Ucrânia: os nomes variam, os mortos se acumulam e a inércia da comunidade internacional se repete como um roteiro escrito à tinta vermelha.
Na Faixa de Gaza, o horror já se tornou rotina. De um lado, o Hamas, organização armada com objetivos políticos e religiosos que não hesita em lançar foguetes contra civis. Do outro, Israel, munido de uma máquina militar devastadora e respaldado por alianças poderosas. No meio, um povo palestino sufocado, espremido entre muros e bombas, que já não distingue onde termina o campo de refugiados e começa o campo de batalha. Os civis são alvos, escudos e estatísticas. E o Ocidente assiste.
Israel, acuado, vê inimigos em todas as direções. O Irã, potência regional com ambições nucleares, segue investindo em milícias e armamentos, testando limites. O recente confronto direto entre os dois países — algo que até então era travado por procuração — eleva a tensão a um nível inédito. O Oriente Médio virou um tabuleiro instável, onde cada jogada pode acender uma fogueira de proporções imprevisíveis.
Do outro lado do mundo, na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, a guerra escancarou a falência da diplomacia europeia e a fragilidade das instituições multilaterais. Vladimir Putin apostou na força para redesenhar o mapa, reverter humilhações históricas e consolidar um império. Em resposta, o Ocidente armou a Ucrânia, transformando o país em uma trincheira geopolítica. A guerra, agora cravada nas trincheiras, consome vidas e alimenta o mercado global de armas. Nenhum dos lados parece disposto a recuar.
Não se trata mais de guerras localizadas. São peças interconectadas de um quebra-cabeça maior, onde alianças e rivalidades escorregam para um ponto de não retorno. China observa. Estados Unidos ameaçam. Europa se divide. A ONU, acuada e politizada, perdeu o protagonismo. Os discursos são sempre os mesmos — defesa da paz, diálogo, direito internacional — mas na prática, a lógica é de poder e sobrevivência.
A possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial já não é apenas tema de ficção distópica ou análise de extremistas. A realidade é que todos os ingredientes estão sobre a mesa: rivalidades ideológicas, disputas por território, armamentos nucleares, colapsos econômicos e uma crise climática que agrava a escassez de recursos. Basta uma fagulha — um ataque mal interpretado, um drone abatido, um míssil fora do curso — para que os pactos de defesa se acionem em cadeia.
A pergunta que paira é: por que não paramos? Porque a lógica da guerra é cíclica, viciada e sustentada por um sistema que lucra com ela. Indústrias bélicas batem recordes de faturamento. Governos usam o medo como escudo para retrocessos internos. E a população, dividida por narrativas simplistas e tribalismos digitais, escolhe lados sem enxergar que, no fim, todos perdem. A guerra não tem heróis — tem sobreviventes mutilados, órfãos em campos de refugiados e cidades em ruínas.
A esperança, dizem, está no diálogo. Mas diálogo exige confiança, tempo e concessão — três elementos em escassez crônica. Enquanto isso, seguimos empilhando armas, aprofundando alianças militares, ensaiando invasões e preparando bunkers. A paz virou um produto de marketing em conferências internacionais, enquanto o mundo real se encharca de pólvora.
É preciso parar. Não por altruísmo, mas por instinto de preservação. A humanidade já flertou com o abismo antes — e, por milagre ou diplomacia, recuou. Hoje, o cenário é ainda mais volátil, com atores mais imprevisíveis e tecnologias de destruição mais potentes. A guerra total não será vencida por ninguém, apenas herdada por cadáveres e escombros. Não há “lado certo” no apocalipse.
Se este século deseja fugir do destino catastrófico que se insinua no horizonte, será preciso coragem para mudar as regras do jogo. A primeira delas: entender que o inimigo não está em outra nação, outra etnia ou outra fé. O verdadeiro inimigo é a nossa incapacidade de aprender com a história — e o silêncio cúmplice que precede todas as tragédias.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este artigo é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri