Entre as sete leis herméticas, Hermes Trismegisto cravou no âmago da humanidade a Lei da Correspondência: “O que está em cima é como o que está embaixo. O que está dentro é como o que está fora.”. A correspondência está presente em todas as rotinas do cotidiano da civilização, seja ela reta, torta, totalitária, contínua ou descontínua, ou simplesmente fragmentada. O ator social é correspondente de outros atores sociais. Sendo assim, o fantasma de Hitler está no quintal, prosperando suas interações aniquiladoras, cultivando o desprezo letal pelo próximo, arquitetando a usura do poder.
O quintal é aqui, no Cariri. Se o zumbi da destruição escarra na dignidade brasileira, sentado no poder da presidência, seus correspondentes mijarão nas cabeças da evolução para demarcar decadências sociais e humanitárias, bem aqui, nas prefeituras e câmaras do Cariri. O alinhamento dessas forças não é esotérico, mas é hermético enquanto causa e efeito. Cada um é responsável pelos seus atos, não tenha dúvidas. Se hoje a sociedade brasileira perdeu direitos trabalhistas, sofreu uma intensa precarização do trabalho, viu a possibilidade legal de usufruir um pouco da sua força de trabalho ir embora com o retardo da aposentadoria e hoje é testemunha do desmonte de todas as políticas públicas sociais, inclusive a ameaça proeminente de privatização do SUS, ela é plenamente responsável quando o voto se fez carne.
Não se faça de rogado. Não tente transferir desqualificações. A postura de quem defende o modelo ultraliberal miliciano é facilmente identificável, principalmente quando demonstrar ódio, desprezo, ignorância, arrogância, preconceitos e toda sorte de supremacismos for o caso. O que está dentro é como o que está fora. Não adianta pedir desculpas, isso não apaga os vestígios da falta de índole, da personalidade rasteira. A piada homofóbica do presidente no Maranhão não é piada, é postura reles, é menosprezo. O sobrevoo na floresta amazônica com embaixadores, pretendido por Mourão, defensor da tortura, não é prova de isonomia, é prova de malandragem, é atestado da falta de lisura governamental. Da mesma forma o bloqueio das verbas para o combate aos incêndios não é exemplo de patriotismo, nem de economia de gastos, muito menos de compromisso com a sociedade. A atitude totalitária do ódio em forma de preconceito é nazismo puro. O nazismo é correspondente do fascismo. O fascismo é como um urso num galinheiro é impossível de se esconder.
A condenação do médico bolsonarista Kayke Paiva por ofensas aos profissionais da enfermagem, revela o ambiente intoxicado de preconceitos que permeia grande parte das interações entre médicos e as outras pessoas que trabalham em hospitais. Frases como: “ou tu faz enfermagem, ou usa o ‘xerecard”, ou então tu faz medicina”; “Quando mencionei o termo ‘xerecard’ quis dizer que talvez vender o corpo seja uma boa ideia para ganhar dinheiro, já que a enfermagem está tão desvalorizada”; “Medicina (é) que dá dinheiro. O resto é resto (…). A enfermagem só existe porque a medicina existe”; revelam as atualizações com sucesso do modelo de convivência social pregada pelo governo atual. Já a nota que o médico ofensor postou, alegando ser portador do transtorno bipolar, revela a engenhosidade tabajara de tentar esconder o urso no galinheiro. O correspondente dessa condenação é a nota de repúdio das entidades de classe e instituições públicas, bem como o peito de cachorro, não servem para nada.
Hermes Trismegisto é três vezes grande, um sábio a serviço da humanidade. Quem não tem grandeza nenhuma é a força armada brasileira, transformada em polícia palaciana, usada como recurso de intimidação, uma potência a serviço do projeto de desconstrução do Brasil, sem nenhuma sabedoria, nem aderente e nem aparente. O exército se tornou um grupo de segurança do grande acordo do golpe, está aí para corroborar o projeto de entrega da segurança pública nas negociatas de privatização. Faz parte do acordão ultraliberal o governo entregar os grandes negócios do Estado para a iniciativa privada. As forças armadas têm sido usadas como garantia disso. Ou seja, o inimigo é o povo brasileiro. Mas a Lei hermética do Ritmo afirma que: “Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas marés, tudo sobe e desce, o ritmo é a compensação”. Nesse sentido é impagável ver generais da ativa e da reserva serem humilhados por um militar expulso do exército por demência. É um espetáculo que envergonha o povo brasileiro, não pelas forças armadas, mas pela truculência em exercício.
A Lei da Mordaça não é hermética, ela é correspondente do holocausto, da noite dos cristais, da fogueira de livros e do chauvinismo dos templos mercenários conservadores. O grau de responsabilidade do eleitor caririense faz parte de uma pragmática que é impossível esconder, não adiantam desculpas e nem atestado de transtorno bipolar. Ou se vai para frente ou se volta para a idade média, em que o Rei manda e os súditos são perseguidos por uma eterna inquisição negacionista, em que deus aponta o dedo indicando quem deve ser crucificado pelo voto. A cidadania faz parte de uma legislação ultrajada constantemente por ataques antidemocráticos. De acordo com a lei do eterno retorno quando Bolsonaro afirma que vai reeditar o decreto que visa privatizar o SUS, ele está perguntando, através dos candidatos bolsonarista caririenses: você vai voltar em mim?
Por Marcos Leonel – Escritor e cidadão do mundo
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