Entender como o Brasil se tornou um farofeiro sentado a uma mesa de plástico, com estampa frontal de cerveja de quinta categoria, posta em um canto sebento de um bar de esquina, soltando pilhérias e macaqueando cafajestadas, enquanto come ovo cozido colorido e arrota mau-caratismo fermentado nas redes sociais, é uma tarefa árdua, uma vez que se tem a certeza de que esse é o reflexo direto de boa parte da sociedade brasileira.
Não se discute aqui, e nem se poderia, um eventual confronto diplomático entre Brasil e França, pois a situação é tão jocosa, tão tosca, que a arte das relações internacionais nem sequer foi cogitada, devido à clara ausência de intelectualidade mínima de uma das partes. O que se considera em análise ficou no plano do submundo, nas entranhas da escatologia social brasileira. Nem mesmo o que se queima aqui faz parte de um bioma, nem vivo e nem morto, a não ser a imagem do País varonil, dos becos inglórios, das armações e dos ardis oficiais.
A patuscada na política brasileira é uma constância histórica, embotada já na chegada da Família Real, que de uma fuga mais vil do que covarde, em que a dignidade de um povo foi roubada, lá, tal qual um frango em um galinheiro, aqui se fez em tom de anedota e fado a fundação de uma nação afundada. Chafurdada que é a céu aberto, seja no extermínio sistemático de mais de 3 milhões de índios brasileiros, seja nos bárbaros crimes ambientais de Mariana e Brumadinho, em que o poder público brasileiro surfa literalmente na lama, como se estivesse em férias no Caribe, gastando o dinheiro do povo com os cartões corporativos.
Passando pelo viés da continência perene dos quarteis, que não desistem nunca da usurpação do poder, evidenciando a pilantragem cívica do político profissional, que não desiste nunca de dilapidar o patrimônio público, e constatando a cumplicidade sórdida do Judiciário com a inconstitucionalidade, que não desiste nunca de acobertar rastros e provas, tem-se a certeza que esse ainda não é um país sério. Isso independe se a lagosta anda ou nada, como na antiga rusga entre Brasil e França, na caricatural “guerra da lagosta”.
Se não bastasse o vilipêndio da chamada coisa pública, se não bastasse ainda a esculhambação planejada que é a chamada coisa pública, se não bastasse ainda mais a impunidade das organizações criminosas que tomam de conta da chamada coisa pública, agora o brasileiro tem que testemunhar o seu momento grotesco, o seu momento bruto, o seu momento de despreparo, de ignorância e de gentinha.
Transformar a formalidade do despacho presidencial em um ato banal de postagens em redes sociais e transtornar a postura de um presidente com a lógica operacional de um palhaço, que se diverte com os comparsas num bar de esquina, é mais do que a quebra do decoro. Isso é revelar a verdadeira cara de moleque de boa parte da sociedade brasileira. Achincalhar a imagem de um presidente de outro país, apupar a mulher dele, com piadas piegas, sexistas, sem um mínimo de educação, até mesmo para uma caserna, é envergonhar um povo inteiro, é hastear a bandeira da seboseira.
É possível ver a imagem do Brasil escorado num canto da porta do bar, olhando as mulheres em trânsito na calçada, enquanto coça a genitália e cospe no chão, escarrando na decência, destilando toda forma de ser espúrio. Também é possível ver a milícia que faz a ronda, dando proteção à comunidade. Também é possível entender o quanto que o culto ao mau-caráter foi banalizado. O cânone da imbecilização desaguou na praia da escatologia. É assim que se funda um antro.
Por Marcos Leonel – Cidadão do Mundo
*Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri