“Os homens quando não são forçados a lutar
por necessidade, lutam por ambição.”
Nicolau Maquiavel
Em pleno Século XXI, quando imaginávamos que as escaramuças agora se resolveriam nos campos da diplomacia, eis que vemos, novamente, o mundo conflagrado. As imagens terríveis da Ucrânia em ruínas e chamas foram, rapidamente esquecidas, no conflito entre Israel e a Palestina. A selvageria de hoje em nada fica a dever à carnificina dos tempos medievais. E a regra, como disse Sartre, é imutável: “os ricos planejam as guerras mas são os pobres que são dizimados”. As chacinas de lado a lado (jovens sendo assassinados em uma rave e mais de mil crianças massacradas na Faixa de Gaza), velhos sequestrados, bombas seguidas destruindo prédios e hospitais do lado palestino (agora as imagens se sucedem a vivo e a cores) nos deixam temerosos do futuro do planeta. Se se reparar direitinho não há tanta diferença das imagens dos palestinos famintos, feridos, sem água e energia, daqueles que alguns anos atrás presenciamos estarrecidos nos Campos de Concentração ou no Gueto de Varsóvia. A violência na guerra não tem lado, cor, partido político, etnia, religião. Basta observar direitinho que ali, na Palestina, se digladiam e se matam reciprocamente, fiéis das duas religiões monoteístas mais importantes da humanidade: cristãos, judeus e islâmicos. Seus livros sagrados (o Torá e a Alcorão) pregam todos a harmonia, a paz, a tolerância, o amor entre os homens. E ali, também, nasceu Jesus, um outro profeta do Cristianismo, que veio trazer a Boa Nova. O Novo Testamento é uma cascata de lições de empatia, de compreensão e convivência pacífica entre irmãos. Os livros sagrados foram rapidamente incinerados. Os Cavaleiros do Apocalipse estão de volta.
A opinião pública, jogada de lado a lado, rapidamente toma partido nesta disputa quase que impossível, historicamente, de se entender. Numa extremidade o povo judeu perseguido historicamente desde Moisés, escravizado, vagando no deserto sem pouso certo, reescravizado pelos Babilônios e Romanos e depois caçados como fera bruta pela Inquisição. Depois chacinado nos Campos de Extermínio na II Guerra, quando mais de seis milhões foram sistematicamente trucidados. Do outro lado o pobre povo palestino que teve seu território dividido e, depois, guerra após guerra, sistematicamente usurpado. Hoje se espreme como sardinha na lata num território mínimo de 10 km por 30 km, onde mais de dois milhões de viventes tentam sobreviver. No meio da conflagração múltiplos interesses envolvidos geopolíticos e econômicos: os países ricos, o Irã, o Líbano, o Egito, a Síria… E o temor crescente da disseminação do caos, uma nova guerra mundial, só que agora com risco de ser a última por conta do arsenal nuclear.
A ONU não chega a um consenso quanto à necessidade de intervir, criando a possibilidade de amparo aos civis encurralados entre o Hamas e Israel. Pede uma guerra limpa o que significa mais ou menos solicitar que brote água bidestilada de uma fossa séptica. Um conflito que remonta a Abraão, claro, não se consegue apaziguar com miolo de pote. É preciso, no entanto, impedir um genocídio. Israel, atacado, tem todo o direito legal de se defender. É preciso, no entanto, compreender que seu agressor é o Hamas e a ele deve dirigir sua resposta bélica. As crianças, os idosos, as mães e avós não são soldados, mas vítimas, estão pagando um preço exorbitante por uma mercadoria que não encomendaram e nem receberam.
Por J. Flávio Vieira. Médico e escritor. Membro do Instituto Cultural do Cariri (ICC). Agraciado com a Medalha do Mérito Bárbara de Alencar
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