Era início de primavera quando Mariana decidiu abrir as janelas. Não era apenas uma questão de deixar o ar circular pela casa – era sobre deixar algo novo entrar. Após meses de inverno interno, ela sentiu que era hora de deixar o sol tocar sua pele outra vez.
A vida tinha desmoronado num piscar de olhos. O emprego que sustentava seus sonhos desaparecera, e com ele, boa parte da confiança no futuro. Depois veio o silêncio de um amor que não resistiu às tempestades. Mariana havia se fechado em si mesma, como quem tenta proteger as poucas partes que restam de um vaso quebrado.
Mas naquela manhã, algo mudou. Foi o canto de um bem-te-vi na árvore próxima à varanda. Um som simples, mas que parecia carregar uma mensagem antiga, quase esquecida: a vida insiste em continuar.
Ela começou devagar. Primeiro, regou as plantas que, por sua negligência, haviam murchado. Algumas não resistiram, é verdade, mas outras, para sua surpresa, lançaram novas folhas. Foi quando percebeu que, assim como as plantas, talvez ela também pudesse florescer novamente.
Mariana foi ao mercado e comprou sementes de girassol. Plantá-las parecia um ato simbólico – algo que ela fazia tanto para a terra quanto para si mesma. E, dia após dia, enquanto regava e observava as primeiras folhinhas surgirem, sentia que algo dentro dela também brotava. Não era apenas uma planta crescendo; era a esperança que voltava, discreta, mas firme.
Os meses passaram e os girassóis finalmente floresceram. Mariana, de pé diante deles, notou como suas hastes se inclinavam em direção ao sol, como se fossem atraídos por uma força maior, uma vontade de viver. Ela, então, entendeu: o renascimento não é um ato grandioso, mas um conjunto de pequenos gestos – abrir uma janela, plantar uma semente, acreditar que o amanhã pode ser diferente.
Ao final daquela tarde, enquanto o sol se despedia atrás das montanhas, Mariana sorriu. Não porque tudo estivesse resolvido, mas porque aprendeu que, mesmo após os invernos mais rigorosos, a primavera sempre chega. E com ela, a beleza de recomeçar.
Por Mirta Lourenço. Médica, professora, cronista e poetisa
*Este artigo é de inteira responsabilidade da autora, e não reflete, necessariamente, a opinião do Revista Cariri